Queda anunciada: os bastidores da saída de Paulo Câmara da presidência do BNB - CN7

Queda anunciada: os bastidores da saída de Paulo Câmara da presidência do BNB

Dois fatores foram essenciais: descumprimento da Lei das Estatais e defesa do INEC

Queda anunciada: os bastidores da saída de Paulo Câmara da presidência do BNB

(Foto: divulgação/BNB)

01/10/2025 12:51

A saída de Paulo Câmara da presidência do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) foi resultado de um processo que combinou fragilidade jurídica, desconfiança política e resistência administrativa. Dois pontos foram decisivos: o descumprimento da Lei das Estatais e a recusa em realizar licitação para os programas de microcrédito Crediamigo e Agroamigo.

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Nos bastidores, a principal pressão veio do Ministério da Fazenda e do Tribunal de Contas da União (TCU), que identificaram sinais de favorecimento ao Instituto Nordeste Cidadania (INEC), que opera o microcrédito rural (Agroamigo). Em dezembro de 2025, Paulo Câmara assinou termo de parceria sem licitação com a entidade, no valor de R$ 730 milhões, para o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO Rural). O ato teve respaldo da área jurídica do banco, sob comando de Karine Rodrigues.

Na sequência, um edital restrito a Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) — categoria em que o INEC se enquadra — foi publicado para transferir a execução do PNMPO Rural da Camed para o instituto. A medida, suspensa posteriormente, gerou embates entre o banco, a Fazenda e o TCU.

A tensão aumentou em setembro, quando o TCU definiu que parcerias com Oscips são vedadas no âmbito do PNMPO, exigindo contratos de prestação de serviços mediante licitação. Esperava-se que Paulo Câmara corrigisse o curso, mas a área jurídica do BNB passou a sustentar que a proibição valeria apenas para o PNMPO Urbano, mantendo a defesa do modelo com o INEC no Rural. A interpretação foi vista como tentativa de preservar a entidade, ampliando a desconfiança em Brasília.

O impasse se agravou quando a direção jurídica chegou a sugerir que a escolha do operador do PNMPO Urbano fosse feita por "ressarcimento" — mecanismo usado apenas por Oscips, e considerado inviável para empresas privadas. A proposta foi recebida como um novo direcionamento para manter o INEC à frente dos programas.

Diante da sequência de interpretações jurídicas equivocadas, consolidou-se a percepção de que Paulo Câmara e sua equipe compartilhavam o mesmo alinhamento em defesa do instituto. O Planalto tentou minimizar o desgaste, sinalizando que o presidente Lula preferia manter Paulo Câmara no cargo. Mas, diante da pressão técnica e política, a demissão foi confirmada.

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Após a queda, interlocutores do governo chegaram a sugerir que Paulo Câmara poderia voltar em 2026. No entanto, em Brasília, a avaliação predominante é de que essa hipótese é remota.

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