MPCE investiga enriquecimento ilícito de PMs envolvidos em crime de extorsão

02/08/17 13:42

Durante três meses, o Ministério Público Estadual (MPE), através do seu grupo Especial de Atuação Contra o Crime Organizado (Gaeco); e a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e do Sistema Penitenciário (CGD) trabalharam em conjunto e na surdina. Objetivo: investigar e prender quatro policiais militares que andavam sujando a farda.  Sargentos destacados no 17º BPM (Conjunto Ceará) estavam enriquecendo ilicitamente, comprando casas, carros de luxo e até sítios e casas de praia. Com que dinheiro? Dinheiro de extorsão.

Segundo o MPE, os sargentos Auricélio da Silva Araripe, Glaydson Eduardo Saraiva, Jeovane Moreira Araújo de Rilmar Marques dos Santos usavam da prerrogativa de agentes da Segurança Pública do Estado para tomar dinheiro de criminosos. Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça mostraram como eles agiam. Usavam além da farda, até viatura da Corporação para prender os traficantes e depois soltá-los após o pagamento da propina. A trama  criminosa e o enriquecimento ilícito chegaram ao fim nesta terça-feira, 1º de agosto, com a prisão dos quatro. Agora, vão ter que explicar para a Justiça como, recebendo um soldo de aproximadamente  R$ 3 mil, conseguiam a “mágica” de comprar imóveis e carros de luxo. Fim da linha. Vão perder a farda…

QUEM VAI INVESTIGAR?

Fim do mês de julho, e o fechamento das estatísticas da criminalidade no Ceará. No geral, quase 500 assassinatos (contando aqueles que ficam de fora das estatísticas do governo). E quem vai investigar tudo isso? A resposta é simples: ninguém. Com a sua atual estrutura, a Polícia Judiciária do Ceará (Civil) está abarrotada de inquéritos sem solução, principalmente os que dizem respeito aos crimes contra a vida (homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte). Até o governo decidir combater realmente a violência e a criminalidade, os números tendem a aumentar. Por que? Simples. Os assassinos estão certos de que ficarão na impunidade. Não há investigação e, portanto, eles não serão alcançados pelos braços da Justiça.  Faltam delegados e suas equipes para atender  a demanda. Até o fim do ano, serão mais de 4,5 mil homicídios no Ceará, aguardem.

IZOLDA E OS INQUÉRITOS

“Dormem” nas gavetas da Delegacia de Combate aos Crimes Contra a Ordem Tributária e à Administração Pública (Decot) inquéritos que têm como indiciadas, ou investigadas (suspeitas) dezenas de figuras do mundo político do Ceará. Gestores e ex-gestores que são apontados como autores de crimes que os levam à improbidade administrativa. A lista é grande, mas quem encabeça é a atual vice-governadora e coordenadora do programa “Ceará Pacífico”, a professora Izolda Cela.  Prefeitos, ex-prefeitos, secretários, ex-secretários, enfim, quem passou ou ocupa cargos públicos e mexe com o dinheiro do povo. Resta saber se os inquéritos estão sendo tocados na valsa. E a que Izolda está respondendo?

DEPÓSITO DE PRESOS

A situação voltou a se complicar nas delegacias de Polícia de Fortaleza e sua Região Metropolitana. As carceragens estão novamente superlotadas. Esse problema é um verdadeiro vai-e-vem. Esvaziam os xadrezes num mês e no outro já está tudo lotado outra vez. Situação difícil para os policiais civis, que de há muito deixaram de cumprir sua obrigação – que é investigar crimes – e se transformaram em carcereiros e “babás” de presos. Na noite desta terça-feira (1º) os 150 presos espremidos nas celas do Complexo das Delegacias Especializadas (Code), localizado no Bairro de Fátima, iniciaram um tumulto que se seguiu a uma tentativa de fuga. Por muito pouco não ocorre ali uma fuga em massa, já que havia apenas dois inspetores para tomar de conta da unidade. Não fosse a chegada rápida de reforço policial, hoje vários bandidos perigosos estariam nas ruas, se juntando a uma verdadeira legião de criminosos que estão à solta.

PORTA ABERTA DA IMPUNIDADE

Causou estranheza e um sentimento de revolta na tropa da PM  recente decisão tomada nas tais audiências de custódia, que se transformaram em verdadeira porta aberta para a impunidade e salvo-conduto para criminosos. Um bandido, identificado por “Abimael do Gueto”, foi preso pela Polícia Militar após uma intensa troca de tiros e perseguição pelas ruas e avenidas entre Fortaleza e Caucaia. Sua quadrilha estava fortemente armada e, segundo as autoridades, o bando se preparava para cometer uma chacina no Morro de São Tiago, Barra do Ceará, na guerra entre as facções criminosas Guardiões do Estado (GDE) e Comando Vermelho (CV).   Na perseguição policial, os criminosos deixaram cair do carro roubado em que estavam, um fuzil. Depois foram apreendidas mais armas e munição. Pois é, poucos depois da prisão do bandido, ele foi levado a  tal audiência de custódia e  liberado. Voltou para as ruas e, certamente, ao comando da quadrilha. Precisa comentar isso??

A MORTE DO  ‘JOÃO NINGUÉM”

A Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa  (DHPP) instalou um tal Sistema de Gerenciamento de Homicídios (SGH). Trata-se de controle estatístico que tem por finalidade medir a eficiência das equipes que lá trabalham. Esse acompanhamento é finalizado a cada mês para que a direção da unidade possa saber quantos crimes foram esclarecidos entre os tiveram inquéritos instaurados. Acompanhado desse sistema foi baixada uma portaria dando prioridade a determinados tipos de assassinatos, entre eles, os que figuram vítimas LGBT.  É que já foi denunciado aqui nesta coluna. Com tantos crimes acontecendo sem parar no Ceará, a Polícia Judiciária se ver forçada a trabalha de forma seletiva  na resolução dos assassinatos. Crimes sem repercussão, cuja vítima é o “João Ninguém da esquina”, ficam certamente sem investigação e, portanto, seus autores na impunidade. É real.

EXEMPLO PARA O CEARÁ

Sabe como o governo de Pernambuco virou modelo para o País em termos de redução da criminalidade?  Investindo em investigação e Inteligência. A Polícia Judiciária pernambucana (que estava capenga como a do Ceará, atualmente) foi revitalizada. Mais de três mil homens ingressaram na instituição nos últimos anos. Há dois anos, seu efetivo já ultrapassava os 4.800 policiais, escrivães e delegados.  Com o reforço da investigação, os assassinatos foram esclarecidos e os matadores presos e levados ás barras da Justiça. Reduziu a impunidade e, consequentemente, a criminalidade. Aqui no Ceará, a Polícia Civil permanece com um quadro de servidores menor do que era há 20 anos. E tome crimes sem solução. A bandidagem agradece ao Palácio da Abolição!

DELEGACIAS QUE NÃO FUNCIONAM

Enquanto o governo faz festa entregando viaturas  novas e inaugurando delegacias plantonistas com o mínimo de efetivo e com policiais “dobrando” serviço para receber gratificação extraordinária, no Interior são mais de 80 cidades que não possuem delegados para instaurar e presidir inquéritos policiais. A enorme lista inclui Municípios como Poranga, Ipaporanga, Ararendá, Pires Ferreira, Catunda, Caridade, Paramoti, Madalena, Uruburetama, Tejuçuoca, Tururu, Umirim, Cruz, Marco, Morrinhos, Itarema, Caridade, Monsenhor Tabosa, Novo Oriente e outros…  A lista é realmente imensa e abrange todas as regiões do Ceará. Isso sem contar com aquelas que deveriam ter delegacias em regime de plantão e as que já teriam que contar com Especializadas, como Delegacia de Defesa da Mulher. Solução à vista?… Nenhuma!

E TEM MAIS !!!

* Preocupante a situação enfrentada pelos policiais que estão usando as novas viaturas da PM e da Polícia Civil. Os carros passaram por adaptações no sistema elétrico para poder receber o kit multimídia (rádios comunicadores, GPS etc). Um especialista no assunto (mecânico de uma concessionária que vendeu os carros ao governo) informou que a “gambiarra” pode sim facilitar a ocorrência de incêndios. E deu a explicação técnica.

* Mais um travesti foi morto no Ceará e as circunstâncias do crime remetem para a suspeita de um caso de intolerância. A vítima foi baleada quando “fazia ponto” nas margens da rodovia estadual CE-060, no Município de Maracanaú. Paulo Henrique Carneiro de Souza recebeu vários tiros à queima-roupa, disparado por bandidos que  fugiram de carro.  Trabalho para a DHPP.

* O Centro Biopsicossocial da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social realizou nesta semana uma apresentação dos serviços de atendimento psicológico e de assistência social para os servidores da perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce). O projeto inclui atendimento a todos os servidores dos órgãos vinculados da SSPDS e está sendo tocado o projeto de sensibilização pela competente  psicóloga Rebeca Rangel.  Perito-Geral do estado, Ricardo Macedo, tem se destacado na gestão.

* Está sendo tocada pelo governo do Estado a criação de uma nova Lei de Organização Básica (LOB) para a Polícia Militar. A última foi editada na gestão do então secretário da segurança Pública, coronel PM Francisco Bezerra,  e “turbinou” a Corporação com a criação de vários batalhões, entre eles o de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio). A nova LOB também vai criar mais unidades, mas está sendo redigida a “sete chaves” pelo Abolição.

* Os ânimos estão exaltados entre a Delegacia Geral da Polícia Civil e a diretoria do Sindicato dos Policiais Civis do Ceará (Sinpoci). As denúncias de precariedade na instituição são muitas. O delegado-geral, Everardo Lima, e sua equipe de assessores e diretores, têm se esforçado para atender às demandas, mas falta gente para o trabalho.

* E a pergunta se repete: onde estão as Hilux que serviam às polícias Civil e Militar? Serão todas levadas à leilão?

 

 

 

 

 

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