Hidrogenio verde e o combustivel do futuro

Confira o perfil de Tasso Jereissaiti no jornal Valor Econômico

19/06/2017 12:18

O texto a seguir é do jornal Valor Econômico, que fez um perfil de Tasso Jereissati como político e uma análise de como ele autou em momentos de crise.

Confira na íntegra

Há um mês na presidência do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) vê se repetir o cenário político que marcou suas duas outras gestões no comando partidário: governo federal em profunda crise, desgastado por denúncias de corrupção, presidente à beira de um impeachment e o PSDB dividido. Em todas as ocasiões em que exerceu a presidência da sigla, o senador esbarrou na resistência do PSDB paulista para fazer prevalecer seu ponto de vista.

Fiscalista e liberal do ponto de vista econômico, o senador cearense sempre se caracterizou pelo extremo pragmatismo na política. Ao longo de sua carreira, o tucano jamais esteve completamente alinhado ao poder central, mas passou poucos momentos na oposição.

Tasso comandou o PSDB pela primeira vez entre 1991 e 1994, durante o mandato de Fernando Collor e no começo da gestão Itamar. Voltou ao comando partidário em 2005, em meio ao escândalo do mensalão tucano, que atingiu o então presidente da legenda Eduardo Azeredo (MG). O senador do Ceará assumiu no lugar do mineiro, abatido pelas denúncias de caixa dois contra Azeredo e de seu envolvimento com o empresário Marcos Valério de Souza, principal personagem da crise política que assolou o governo e o PT e que ameaçava na ocasião o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Tanto nos anos 90 quanto na década passada, Tasso estava na oposição, mas com muito diálogo junto ao governo federal. A época em que Tasso fez movimentos políticos mais surpreendentes foi 1992.

No mês de abril, há 25 anos, Tasso negociou a entrada do partido no governo Collor. O então presidente estava extremamente desgastado, mas ainda não enfrentava um processo de impeachment. No dia seguinte de uma extenuante reunião com o então coordenador político do governo, Jorge Bornhausen, Tasso reuniu a Executiva Nacional tucana para discutir o tema. Terminou em oito a oito. Encabeçaram a resistência o então senador Mário Covas e o atual senador José Serra, principais referências do partido em São Paulo. Diante do impasse, Tasso se absteve. Não viu sentido em levar o partido rachado para dentro do Palácio do Planalto. Na dúvida, o PSDB ficou na oposição. Em cinco meses, Collor estava afastado do cargo.

Ato contínuo, PSDB e PT se aproximaram e articularam uma chapa presidencial entre as duas siglas, com Lula para presidente e Tasso na vice – algo que parece insólito nos dias de hoje. A conversa esfriou entre abril e maio de 1993, com a vitória do presidencialismo no plebiscito daquele ano e a nomeação de Fernando Henrique Cardoso para o ministério da Fazenda.

No governo Lula, Tasso chegou a costurar um acordo para preservar o então ministro da Fazenda Antônio Palocci e foi um dos defensores no Congresso do ministro quando setores da própria base governista passaram a criticar a condução da política econômica de ajuste fiscal.

Tasso procurou blindar Palocci contra os efeitos da crise política e adotou a mesma posição cautelosa quando integrantes da oposição passaram a pedir o impeachment de Lula diante de novas evidências de que o dinheiro do “valerioduto” – expressão criada para designar o esquema chefiado por Marcos Valério – servira para financiar campanhas eleitorais do PT. O PSDB terminou por descartar trabalhar para encurtar o mandato de Lula e apostou em brecar a reeleição no ano seguinte.

Durante a campanha eleitoral, Tasso radicalizou e o PSDB apresentou, juntamente com o PFL, atual DEM, uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a cassação da candidatura de Lula por abuso de poder econômico e político. Na representação, os partidos alegavam que o PT teria comprado um suposto dossiê contra os candidatos do PSDB à presidência, Geraldo Alckmin, e ao governo paulista, José Serra, no chamado “escândalo dos aloprados”. O TSE aprovou a abertura de um processo para investigar a denúncia, mas o caso não seria julgado antes das eleições. Em abril de 2007, o Tribunal decidiu arquivar a representação por falta de provas.

Filho de um industrial do ramo têxtil, Tasso é um dos políticos mais ricos do país. Em 2010, quando disputou o Senado e perdeu pela única vez ao longo de sua carreira, o patrimônio era de R$ 63,5 milhões.

O tucano era então dono do engarrafamento da Coca-Cola em quatro Estados do Nordeste, da TV Jangadeiro, retransmissora do SBT em Fortaleza, e do shopping Iguatemi, na capital cearense. Nos quatro anos sem mandato, mudou de escala, associando-se com outras forças empresariais. Passou a ser acionista de uma nova empresa, a Solar BR, que fabrica o refrigerante em doze Estados, inclusive todo o Nordeste, abriu dois outros shopping centers, em Belém e Campo Grande, sob a marca “Bosque” e manteve o seu sistema de comunicação, acrescido do portal na internet “Tribuna do Ceará”, duas rádios na capital e seis rádios no interior do Estado.

Em 2014 o patrimônio saltou para o valor de R$ 389 milhões, o maior entre os eleitos para o Senado naquele ano, segundo declaração à Justiça Eleitoral. Cerca de 40% deste total estava reunido em suas ações em duas pessoas jurídicas, a Calila Investimentos e a Calila Participações.

A Calila Investimentos é uma das acionistas da Renosa, controladora da Solar BR. Em 2015, a Renosa teve lucro de R$ 387,2 milhões e o patrimônio líquido consolidado era de R$ 4,275 bilhões.

A parte imobiliária dos seus negócios é de menor porte. Os shoppings são controlados pela Jereissati Centros Comerciais (JCC), também da Calila. Para a expansão da rede, Tasso contou em 2013 com aporte da Gávea Investimentos, de Armínio Fraga. Em 2015, a JCC divulgou balanço em que registrou patrimônio líquido de R$ 476 milhões. O lucro foi de 140 milhões.

Na campanha de 2014, Tasso recebeu R$ 8,7 milhões em doações, segundo os dados registrados no TSE. Desse montante, R$ 2,6 milhões foram de doações próprias, seja diretamente do próprio senador ou das empresas que controla. A segunda maior doação veio da Contax, com R$ 1 milhão, à época com participação acionária do ramo familiar de seu irmão, Carlos Francisco Jereissati, que foi um dos donos da Oi e é sócio da rede de shopping center Iguatemi.

Em 2014, Tasso tinha R$ 72,7 milhões em ações da Jereissati Participações, a holding que administra bens do ramo familiar de Carlos Jereissati. Mas segundo informação da Companhia de Valores Mobiliários (CVM) datada de 9 de maio, o senador não compõe mais o quadro de sócios do conglomerado. Segundo a assessoria de imprensa do senador, Tasso profissionalizou a gestão de suas empresas e não participa das decisões do dia-a-dia do grupo.

O senador é casado com Renata Queiroz – filha de Edson Queiroz, um dos mais importantes empresários do Ceará, falecido em 1982 na queda de um avião da Vasp na Serra de Pacatuba, e irmã de Edson Queiroz Filho, deputado federal pelo Ceará entre 1995 e 1997 -, com quem teve quatro filhos. O grupo Edson Queiroz é dono de meios de comunicação, universidades, fábrica de eletrodomésticos, distribuidora de gás e de água mineral. Tasso nunca se envolveu nos negócios da família da mulher.

Nos anos 80, Tasso presidiu o Centro Industrial do Ceará (CIC), em aliança com dois outros empresários: no setor moageiro, Amarílio Macêdo; e no têxtil, Sérgio Machado, que se tornaria no futuro senador, e, já rompido com Tasso, presidente da Transpetro e delator da Lava-Jato. Como presidente do CIC, Tasso estabeleceu laços com políticos do então PMDB de São Paulo, como FHC e Franco Montoro. Lançou-se na vida eleitoral em 1986, pela sigla, com apoio do governador Gonzaga Mota (PFL) e do então presidente José Sarney.

Apesar do palanque forte, foi eleito por ser visto como um símbolo da renovação no Estado, uma ruptura com o clientelismo de três coronéis de reserva que dominaram a política local por vinte anos: Virgilio Távora, César Cals e Adauto Bezerra. Na sucessão presidencial em 1989, só se definiu dois meses antes do pleito. A base de Tasso queria o apoio a Collor, mas o governador não queria romper com Sarney. Na reta final, aderiu à candidatura de outro oposicionista, Mário Covas.

Em 1994, na Presidência de Fernando Henrique, Tasso voltou ao governo do Ceará. Apoiou as reformas propostas por FHC, mas demarcou distância dentro do partido no âmbito eleitoral. Tasso apoiou discretamente o oposicionista Ciro Gomes, seu antigo pupilo, mas eleições de 1998 e 2002.

A ida de Tasso para a oposição, na década passada, marcou o início de um longo declínio. Como presidente da sigla, em 2006, Tasso assistiu Geraldo Alckmin se impor como candidato contra José Serra, preferido da cúpula. O governador do Ceará à época, Lúcio Alcântara, afastou-se dele e o PSDB perdeu o governo local. Em 2010, Tasso seria derrotado ao tentar novo mandato no Senado.

Tasso já foi alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal sobre crimes de imprensa, contra a honra e de difamação. Todos esses casos já foram encerrados sem denúncia e não há nenhum em tramitação no STF. Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, o senador não concedeu entrevista.

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