“Minha filha foi vítima e não acreditei”, diz mãe de mulher abusada por Hilson Paiva

Ele está preso na Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes desde julho

José Hilson de Paiva

09/10/19 20:08

Nesta quarta-feira (9), duas vítimas de abuso do médico e ex-prefeito de Uruburetama, José Hilson de Paiva, foram ouvidas na primeira audiência de instrução do caso. Ele é acusado de violência sexual durante a realização de exames ginecológicos, além de filmar a prática. A denúncia foi feita pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).

Outras três testemunhas de acusação e mais quatro de defesa também foram ouvidas pela Justiça no Fórum de Uruburetama. Uma das depoentes disse que não acreditou na própria filha à época em que a garota tinha 16 anos e foi abusada pelo médico.

José Hilson está preso na Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza, desde julho deste ano. A informação é de que os crimes aconteciam desde 1980.

Confira as declarações das vítimas divulgadas pelo Diário do Nordeste:

“Eu tava como testemunha e também fui uma das vítimas. Já passou, mas ficam sequelas no psicológico da gente, a gente sempre tá deparando com essa imagem passando diante da gente, a gente fica sempre sofrendo com o que passou”, expõe uma das vítimas ouvidas nesta quarta.  

Durante a audiência, ela dividiu espaço com mulheres que estavam lá como defesa do ex-prefeito e médico.  

“Tinham outras mulheres que tavam ali do lado dizendo “ah, vai rodar lá dentro, Deus é maior”. É, Deus é maior e a verdade vai sempre prevalecer. Aquelas mulheres que não foram vítimas, que ficam acusando as vítimas achando que a gente tá mentindo. A gente nunca iria sair da nossa casa pra falar uma mentira, pra se expor, pra passar o que a gente passa, três horas longe da casa da gente… se não tivesse sido totalmente injustiçada”, comenta. 

O Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (Nuavv) do MPCE acompanhou o processo no Fórum.  

“Veio junto a equipe técnica, psicólogas, assistentes sociais, com objetivo de dar esse suporte emocional às testemunhas porque essa situação tem uma repercussão muito grande. Elas têm sido bastante penalizadas pela publicidade desse fato, pela exposição, pelo fato de terem tido a coragem de falar. Então houve muita represália por conta disso”, explica a coordenadora do Nuavv e promotora de Justiça, Joseana França Pinto. 

“O que a gente tem percebido é um adoecimento mental muito grande, uma fragilidade muito grande, isso a gente sabe de mulheres que são vítimas de qualquer tipo de abuso sexual. Então isso precisa ser tratado. Nessa política de proteção, a gente não pode esquecer a questão do adoecimento mental”, frisou. 

A segunda vítima ouvida no Fórum foi representada pela mãe durante a audiência. A mulher confessa que, no início, não acreditou nos relatos da filha, que na época do crime estava com 16 anos. 

“Minha filha foi vítima e eu não acreditei, ainda passei anos e anos votando nele. Eu não acreditei porque, naquela época, não tinha Justiça como tem hoje, não tinha nada. A gente era muito fraquinho pra quem tem um poder tão grande. Mas agora, que a gente tá vendo tudo à tona… a pessoa que faz o que ele fez não é normal”, relata. 

A mãe afirma que a filha ficou com sequelas psicológicas e hoje mora fora do Estado. 

“Minha família toda era do lado dele. Mas espero que ele pague pelo que ele fez, que a consciência dele toque bem fundo e saiba que ele tá pagando pelo que ele fez. O que eu vi de mulher exposta, nossa… mãe de família, tanta gente. É muito triste”, completa. 

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