Furto milionário no Banco Central completa 15 anos com muitos ladrões já soltos

Muito dinheiro dos R$ 164 milhões furtados do BC, em 2005, ainda circula pelo Brasil

Um túnel de mais de 80 metros de extensão serviu para escoar o dinheiro furtado

05/08/20 10:39

Eram 23h30 da noite de 5 de agosto de 2005, uma sexta-feira. Naquela hora começava a parte final de um plano criminoso audacioso e técnico  que  culminou no maior furto em uma instituição financeira do Brasil em toda a sua história. Nada menos, que R$ 164,8 milhões em espécie foram furtados da casa forte do Banco Central, em Fortaleza. Passados 15 anos do crime, muitos dos envolvidos ainda estão presos, outros ganharam a liberdade e mais de 60 por cento do dinheiro levado pelos ladrões não foram recuperados. O “Caso BC” virou até filme e seriado de tevê.

O mais espetacular e rentável furto bancário da história do país completa 15 anos exatamente hoje (5), e o homem apontado como principal mentor do plano criminoso já está prestes a sair da cadeia. Trata-se do cearense Antônio Jussivan  Alves dos Santos, o “Alemão”, natural da cidade de Boa Viagem (a 217Km de Fortaleza).

“Alemão” foi preso pela Polícia Federal, em Brasília, dois anos depois da descoberta do crime (2007). Meses depois da captura, foi condenado a uma pena de 49 anos de reclusão, mas teve a sentença revisada pela Justiça Federal, em 2012, e a pena “caiu” 35 anos. Assim como ele, muitos outros processados, julgados e condenados no mesmo processo também tiveram a pena diminuída.

O começo

A história do furto milionário do BC em Fortaleza começou ainda  em fevereiro de 2005, quando um grupo de criminosos cearenses e paulistas, ligados à facção criminosa de São Paulo, Primeiro Comando da Capital (PCC), iniciou as escavações do túnel de mais de 80 metros que partia de um quarto de uma casa alugada pela quadrilha, situada na Rua 25 de Março, e que seguiu em direção ao caixa forte do banco, situado na esquina das avenidas Heráclito Graça e Dom Manuel, em pleno Centro de Fortaleza.  A casa alugada pela quadrilha ganhou fachada de loja de venda de grama sintética.

Após seis meses de escavações profundas e técnicas, sob a supervisão direta de um engenheiro do PCC, os bandidos entraram, finalmente  no “cofre” do BC burlando todo o aparato eletrônico de câmeras e alarmes sofisticados e de alta tecnologia sem que fossem percebidos. Era uma sexta-feira (dia 5 de agosto) e de lá só saíram por volta de 5 da manhã de sábado (6). De lá retiraram exatos R$ 164,8 milhões. Foram mais de duas toneladas de dinheiro furtadas, tudo em cédulas velhas de 50 reais e que estavam ali para serem incineradas e substituídas. 

A descoberta do crime, no entanto, só aconteceu no dia 8 de agosto de 2005, uma segunda-feira, quando os funcionários chegaram ao banco  naquela manhã, por volta de 8 horas, para darem início ao expediente do dia e da semana.  Logo, a notícia se espalhou como uma bomba em Fortaleza e, rapidamente, ganhou repercussão nacional e no exterior.

Agentes e peritos da PF entraram no túnel, dentro do banco, e saíram no quarto da casa da Rua 25 de março. A partir da li começava a investigação em busca do dinheiro e dos ladrões.

Antônio Jussivan Alves dos Santos, o “Alemão”, comandou a quadrilha

Plano revelado

Através de várias pistas colhidas no local do crime, a PF iniciou uma longa, persistente e cansativa investigação que iria durar, ao menos, quatro anos até que todos os membros da quadrilha fossem identificados e indiciados em inquéritos. Além de furto, os membros do bando responderam por outros crimes como formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos, uso de documentos falsos, crime contra o sistema financeiro nacional, receptação, associação criminosa e muitos outros.

Parte do dinheiro foi encontrada enterrada no quarto de uma casa que a quadrilha alugou em plena Avenida Perimetral, no bairro Mondubim, em Fortaleza. Outra parte foi encontrada escondida em veículos que estavam sendo transportados por uma carreta-cegonha interceptada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), quatro dias depois do furto, em uma rodovia no interior de Minas Gerais.  O destino era São Paulo, o berço do PCC.

Sequestros e mortes de policiais, de familiares dos criminosos e de alguns dos próprios  ladrões se sucederam ao longo dos meses seguintes à descoberta do furto.

Um prefeito (de Boa Viagem), dois empresários do ramo de veículos e motéis em Fortaleza, um engenheiro, além dos bandidos e familiares acabaram sendo identificados como participantes da trama criminosa. Muitos enriqueceram “da noite para o dia”, comprando imóveis como casas de luxo, apartamentos, fazendas e até motéis e restaurantes; além de  veículos de luxo, lanchas e animais, incluindo rebanhos inteiros de reses e também cavalos de raça. A Justiça Federal seqüestrou os bens adquiridos pela quadrilha.

Quinze anos depois do crime, muito dinheiro tirado na calada da noite da casa forte do BC, em Fortaleza, ainda circula pelo Brasil afora.

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