Fósseis descobertos no Cariri indicam estresse climático há mais de 100 mi de anos

Professores e estudantes realizaram trabalho durante mais de um ano

28/03/21 5:04

Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), da Universidade Regional do Cariri (URCA) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) publicaram na última sexta-feira (26) um artigo inédito sobre um evento de mortalidade em massa de larvas de um inseto aquático, encontrado na unidade geológica Formação Crato, na região da Chapada do Araripe, no Cariri cearense

A pesquisa apresenta a primeira análise tafonômica de uma mortalidade em massa de insetos da Formação Crato, ou seja, conta a história dos eventos que ocorreram antes da fossilização dos organismos neste sítio paleontológico. Esse trabalho só pôde ser realizado graças à primeira escavação paleontológica controlada da Formação Crato, que foi realizada pela equipe do Laboratório de Paleontologia da URCA.

“Esse trabalho foi exaustivo e levou mais de um ano para analisar camada por camada, algo que foi realizado pela primeira vez nesse importante depósito fossilífero e contou com o esforço e dedicação de uma grande equipe de professores e estudantes”, afirma o professor da URCA, Álamo Saraiva.

Segundo a pesquisadora Arianny Storari, da Ufes, o achado provém de uma camada de calcário laminado, localmente conhecido como pedra cariri. As larvas de insetos encontradas pertencem ao grupo Ephemeroptera, conhecidos popularmente como efêmeras. “Essa localidade é muito rica em fósseis e, portanto, pequenos acúmulos de mais de três insetos próximos na mesma camada de rochas são comuns nesta unidade, mas acumulações de 40 insetos, como as apresentadas nesse estudo inédito, são muito raras no registro fóssil”.

O que é a Formação Crato

Entre 113 e 125 milhões de anos atrás, durante o Cretáceo Inferior, a África e América do Sul ainda estavam unidas, formando um único continente conhecido como Gondwana. Mas os blocos de terra já começavam a se separar, formando um oceano estreito e raso. À beira deste oceano, havia um ambiente composto por lagoas com vida animal e vegetal diversificada. Este ambiente se preservou como uma unidade fossilífera que conhecemos hoje como Formação Crato, localizada na região da Chapada do Araripe, no sul do estado do Ceará.

Descoberta

Os autores notaram que na camada de mortalidade em massa desses insetos, as larvas e os peixes eram menores do que o normal. Isso os levou a hipotetizar que eles poderiam estar vivendo em uma coluna de água rasa, porque indivíduos mais jovens poderiam suportar níveis de água mais baixos devido ao seu tamanho pequeno. “Com base nos padrões anatômicos e de preservação das larvas das efêmeras da família Hexagenitidae e dos peixes do gênero Dastilbe, foi possível compreender mais ainda o ambiente pretérito da Formação Crato”, afirma a paleontóloga Taissa Rodrigues, da Ufes.

Importância

Segundo Saraiva, “a partir da pesquisa sobre eventos ambientais passados e como eles afetaram a fauna daquela época, os pesquisadores podem interpretar tendências recentes e até futuras”.

E esta descoberta conta mais uma parte da história do que era o Ceará em um tempo muito distante. Segundo a professora da UFPE Flaviana Lima, que também participou da escavação que culminou neste achado, “como os fósseis de efêmeras de Hexagenitidae e os peixes Dastilbe representam uma fauna que viveu no paleolago da Formação Crato, os dados deles podem ser usados para entender melhor o contexto paleoambiental desta unidade”.

“Assim como nos dias de hoje os insetos aquáticos são ótimos bioindicadores de qualidade de água, eles também conseguem nos ajudar a entender o ambiente pretérito, já que são sensíveis às variações do meio onde vivem”, complementa Storari.

Assinam o artigo Arianny P. Storari, Taissa Rodrigues, Renan A. M. Bantim, Flaviana J. Lima e Antônio Á. F. Saraiva.

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