Família FG unida na propina: Cid Gomes na JBS e Lúcio na Galvão Engenharia
Executivo da Galvão revelou esquema montado por Lúcio Gomes para arrecadar propinas

Cid e Lúcio Gomes
22/09/2018 10:20
Depois da delação da JBS que envolveu diretamente Cid Gomes, uma nova denúncia atinge mais um membro dos Ferreira Gomes. Executivos da empreiteira Galvão Engenharia relataram em delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR) que Lúcio Gomes, irmão do candidato à presidência da República, Ciro Gomes, recebeu cerca de R$ 1,1 milhão em dinheiro vivo e captou mais R$ 5,5 milhões via doações eleitorais oficiais para o PSB, em troca da liberação de pagamentos de obras no governo do Ceará na gestão de Cid Gomes (2007-2014).
A reportagem sobre o fato foi publicada na edição deste sábado (22) do jornal O Globo, que teve acesso à delação de Jorge Henrique Marques Valença, ex-executivo da construtora. A delação foi homologada em dezembro do ano passado e vinha sendo mantida em sigilo até hoje.
“Havia uma sistemática por meio da qual se conectava a liberação de pagamentos devidos pelo estado do Ceará com financiamentos de campanhas e doações oficiais e não-oficiais”, relatou o ex-executivo ao ser ouvido sigilosamente por procuradores da PGR.
Lúcio Gomes, conforme trechos da delação premiada, “orientava a empresa a procurar diretamente Ciro Gomes ou Cid para uma conversa institucional, na qual deveriam indicar a ordem dos recebimentos das pendências que deveriam ser cobradas”.
A construtora detinha alguns dos principais contratos da gestão de Cid Gomes, como a Arena Castelão, o Eixão das Águas e o Centro de Eventos do Ceará.
O delator afirma que Lúcio Gomes “fazia questão de, sistematicamente, verbalizar que não estava articulando ou vinculando nem uma coisa nem outra (pagamentos legais e propinas), no entanto, fazia expressamente pedidos de doações para as campanhas dos irmãos no contexto das cobranças. Nas conversas com os executivos da Galvão, Lúcio Gomes usava, ao menos, três pseudônimos: “LG”, “Tela” e “Tela Plana”.
Milhões liberados
Um dos casos mais graves citados na delação diz respeito a uma negociação feita em 2010 para o pagamento de R$ 28 milhões relativos às obras do Eixão das Águas. O delator afirma ter sido recebido na casa de Lúcio Gomes, onde ouviu do irmão de Ciro o pedido de R$ 6,4 milhões em espécie para ser empregado nas eleições daquele ano. A empreiteira teria autorizado a negociação e recebeu, ao longo do ano seguinte R$ 18 milhões do governo cearense – o saldo de R$ 10 milhões foi prometido para o ano seguinte, mas nunca teria sido pago.
Ainda de acordo com a delação premiada, em função do pagamento apenas parcial, o delator afirma que repassou R$ 1,1 milhão em espécie para Lúcio Gomes. Na delação à PGR, Jorge Valença passou uma planilha em que discrimina a entrega de seis parcelas com valores entre R$ 150 mil e R$ 200 mil, que teriam sido recebidas no apartamento do delator e no escritório da Galvão Engenharia, em Fortaleza. Também foram entregues por Valença aos procuradores comprovantes bancários dos repasses oficiais, trocas de e-mails e planilhas internas com o controle da entrega do dinheiro em espécie.
Em um dos e-mails que estão em poder dos procuradores da PGR, datado de 16 de dezembro de 2010, Valença avisa que já havia a previsão para o pagamento ser feito e pede que os executivos da empreiteira procurem Cid e Ciro Gomes. Diz o e-mail: “Já tem orçamento! Só falta o ok do governador (Cid Gomes). Estou agindo, mas é importante a ajuda do Mário (Galvão, sócio da empresa e também delator) com o irmão mais velho (Ciro Gomes), que já está no Brasil”.
Naquela semana (dezembro de 2010), segundo o delator, a Imprensa noticiava que Ciro Gomes estava em viagem à Europa e retornaria ao Brasil na quarta-feira. O e-mail foi enviado no dia seguinte ao retorno de Ciro Gomes.
Leia também:
http://cearanews7.com/donos-da-jbs-detalham-pagamento-de-propina-a-cid-gomes-em-novas-delacoes/
Publicidade