Um ano após a mega-rebelião que deixou 14 mortos, facções dominam presídios do Ceará - CN7

Um ano após a mega-rebelião que deixou 14 mortos, facções dominam presídios do Ceará

Um ano após a mega-rebelião que deixou 14 mortos, facções dominam presídios do Ceará

A desordem imperou dentro das cadeias rebeladas por vários dias e 14 presos acabaram mortos

21/05/2017 8:06

Um ano se passou desde a maior rebelião já registrada no Sistema Penitenciário do Estado do Ceará. Catorze presos foram assassinados. Dezenas ficaram feridas. Cadeias foram completamente destruídas. Passado um ano da turbulência, o sistema ainda apresenta resquícios do motim e as cadeias hoje estão loteadas e sob o domínio de quatro organizações criminosas: Primeiro Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho (CV), Guardiões do Estado (GDE) e Família do Norte (FDN). Era a manhã do dia 21 de maio de 2016, quando eclodiu o motim simultâneo em, pelo menos, cinco unidades do Sistema: as Casas de Privação Provisória da Liberdade (CPPLs), 1, 2 e 3,  todas em Itaitinga; além do Presídio do Carrapicho, em Caucaia; e o Instituto Presídio Feminino Desembargadora Auri Moura Costa, em Aquiraz. Nas horas e dias seguintes, a revolta da massa carcerária se ampliou, atingido outras duas CPPLs (4 e 5),  o Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira 2 (IPPOO II), em Itaitinga; e a Penitenciária Estadual de Pacatuba. Em meio ao tumulto generalizado que se estendeu pelas unidades penais,  as facções criminosas PCC e Comando Vermelho aproveitaram a ocasião para um “ajuste de contas”, já que todas as grades das celas e pavilhões foram derrubadas. Sem a barreira física que os separava dentro das cadeias, as duas organizações criminosas partiram para o confronto. Era a hora das ameaças entre os criminosos serem  concretizadas. Cenas macabras foram postadas pelos próprios detentos e seus familiares nas redes sociais. Os atos de selvageria incluíram desde homens sendo decapitados ou esquartejados a outros queimados vivos envoltos em colchões e lençóis, cenas medievais da crueldade imposta pelo crime. Fumaça e mortes A mega-rebelião que irrompeu na manhã de 21 de maio de 2016 teve como agravante e estopim a deflagração de uma greve anunciada antecipadamente pelos agentes penitenciários. Durante cinco meses a categoria tentou negociar com o Governo do Estado a solução para suas reivindicações (aumento salarial, melhores condições de trabalho e concursos para o ingresso de novos profissionais). Não conseguiu. Na manhã daquele sábado fatídico, os presídios entraram em “guerra” e logo as colunas de fumaça podiam ser vistas a quilômetros do Complexo Penal de Itaitinga, nas margens da BR-116.  A suspensão das visitas (por conta da greve dos agentes) foi o combustível que faltava para que as facções criminosas iniciassem a guerra dentro das cadeias. Do lado de fora das CPPLs os familiares dos presos também “fizeram a sua parte”, bloqueando as BRs 116 (em Itaitinga e Aquiraz) e 020 (em Caucaia), impedindo o trânsito e mostrando a revolta colocando fogo em pneus, formando barricadas e entrando em confronto com a tropa do Batalhão de Choque da PM, que disparou granadas de gás  lacrimogêneo e balas de borracha. A destruição foi completa em alguns presídios e parcial em outros. O governo estadual pediu ajuda ao federal. Uma semana depois, uma tropa da Força Nacional de Segurança chegou ao Ceará com a missão de ajudar a PM a colocar a casa em ordem. O efetivo da FNS foi substituído, depois, pela Força Federal de Intervenção Penitenciária (FIP), um grupo de elite de agentes penitenciários especialistas em gerenciamento de crise  e retomada da ordem e disciplina em presídios rebelados. Do que restou da mega-rebelião foram dúvidas sobre o número real de mortos (até hoje os familiares de presos dizem que muitos ainda estão desaparecidos), a reconstrução da estrutura física das cadeias e a retaliação do governo e do Ministério Público Estadual contra os servidores que teriam liderado a greve dos agentes penitenciários. Nove deles estão sendo processados e correm o risco de serem demitidos do Serviço Público. Facções no comando Com a retomada das cadeias, o governo acabou se rendendo a outra imposição do crime, teve que “lotear” o sistema, separando as facções por presídio. O PCC foi isolado na CPPL 3. O Comando Vermelho ficou com a CPPL 2 e a Guardiões do Estado (GDE) está no Presídio do Carrapicho. Os recentes atentados nas ruas de Fortaleza e Região Metropolitana, que paralisaram o sistema de transporte coletivo (com mais de 20 ônibus incendiados) e atacaram as bases da Segurança Pública (delegacias metralhadas), foram contidos após uma negociação que resultou na transferência de presos e isolamento das facções.  O clima no sistema, porém, é de tensão permanente. Nas duas últimas semanas, dois ataques externos, com tiroteios, resultaram em fugas coletivas na CPPL 3, onde estão os membros do PCC. Além disso, a Polícia Militar desmontou um plano que foi elaborado pelo alto comando da facção, em São Paulo, para resgatar da cadeia os principais líderes locais da organização criminosa
Publicidade
Publicidade

LINKS PATROCINADOS