A Júlia e o “Todo dia é dia de Natal”
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A Júlia e o “Todo dia é dia de Natal”

22/12/2017 9:35

Minha filha disse que quando crescer vai ter um restaurante com o nome "Todo dia é dia de Natal". Será um sucesso. Clima ameno, conversas familiares, comida boa e aquela sensação de tudo o que poderia ter sido e foi, ou foi mais. Júlia tem cinco anos e sonha em ser cozinheira -- pelo menos esse é um dos sonhos. Gosta de meter a mão na massa mesmo, não tem frescura. Diferente de mim quando tinha a idade dela. Eu só via TV e comia biscoito. Ela quer fazer as histórias da tevê e os biscoitos. Diferente de mim, melhor do que eu. Quando eu era criança e pensava no Natal, vinha à mente a imagem do meu avô vestido de Papai Noel -- estava mais para Vovô Índio, mais pela descendência do que pela inclinação política. Eu achava muito engraçado, porque ele era desengonçado e sempre estava com uma ou duas doses de cachaça a mais na barriga, que era pequena ainda, bem menor que a do bom e sóbrio velhinho de hoje. Lembro pouca coisa do Natal. Nunca me empolguei com datas festivas. Nenhuma. Diferente da Júlia, que comemora até corte de unha. Ela vê beleza onde existe beleza: em tudo. Tem um olhar endomingado permanente. Eu sempre fui cinzento e ranzinza. Ela é melhor do que eu. Minha filha realmente acredita que todo dia seja dia de clima ameno, conversas familiares, comida boa e aquela sensação de tudo o que poderia ter sido e foi, ou foi mais. Isso não é uma característica só da Júlia. Milhares de pessoas são assim. Tem gente que nasce assim e permanece assim. Tem gente que aprende a ser assim. Tem gente que não tem jeito. Meu caso. Mas eu acho que as coisas estão mudando, talvez tenha sido a crise da idade que me abriu os olhos. Ou os olhos da minha filha que encontrei nos meus. Tenho estado menos cinza, mais endomingado. Talvez seja sócio na empreitada "Todo dia é dia de Natal". Júlia vai crescer. Acredito que ela é das pessoas que nasceram lindas e vão morrer lindas. Caso haja um acidente de percurso, há sempre alguma coisa que entra nos nossos olhos e nos muda o ponto de vista: um filho, um amor, uma crença, um negócio. Só espero que as pessoas não deixem para ir ao restaurante da minha filha -- já disse que vou ser sócio -- apenas no final do ano. Aí não tem quem aguente, com ou sem crise.

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