Políticos e intelectuais da América Latina pedem a renúncia da candidatura de Ciro Gomes
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Políticos e intelectuais da América Latina pedem a renúncia da candidatura de Ciro Gomes

Em documento, os signatários pedem que Ciro peça votos para Lula

(Foto: reprodução/Instagram)

21/09/2022 16:25

Políticos e intelectuais da América Latina e Caribe divulgaram uma carta, nessa terça-feira (20), pedindo que Ciro Gomes (PDT) renuncie a sua candidatura à presidência da República em favor da eleição do ex-presidente Lula (PT). O intuito é que o petista derrote o presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno das eleições.

Na carta, os políticos e intelectuais citam a ‘perplexidade’ com a insistência do pedetista em manter a candidatura para a presidência da República diante do cenário eleitoral no Brasil. "É incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais eleições no Brasil, neste 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerado um ponto de virada histórico", diz um trecho do documento. Os signatários acreditam que o ex-ministro possui poucas chances de vencer Bolsonaro nas eleições.

Ainda no documento, os signatários pedem para Ciro ‘corrigir o rumo’ e passar a pedir votos para Lula. "Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula (…) Peça-lhes aquele voto, crucial para derrotar no primeiro turno o capitão (assim, com letras minúsculas) e seus esquadrões armados", diz um outro trecho do documento.

Entre os nomes que assinaram o documento estão o argentino Adolfo Pérez Esquivel, que foi Prêmio Nobel da Paz em 1980, e Rafael Correa, ex-presidente do Equador.

"Querido companheiro Ciro Gomes:

Os abaixo assinados são militantes da esquerda latino-americana, profundamente antiimperialistas e comprometidos com a emancipação de nossos povos e a criação da Grande Pátria. Somos também pessoas que amam e admiram o Brasil e seu povo; à cultura primorosa daquele país: sua música, sua literatura, suas pinturas, sua gastronomia, suas diversas manifestações artísticas e também a longa luta de seu povo para ter acesso a uma vida mais plena, espiritual e materialmente.

Sabemos que você foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida. É por isso a perplexidade que nos leva a escrever-lhe esta carta e que nos move a enviar-lhe esta mensagem fraterna, porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, neste 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerada um ponto de virada histórico. Por quê? Porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio “Lula” da Silva, mas entre fascismo e democracia. E você, um homem político, inteligente e com larga experiência atrás de você, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas, muito menos vencer no primeiro turno. A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe. Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer nenhum bem, nenhum bem, e está em condições de causar grandes danos ao Brasil e ao seu povo. Você não será capaz de fazer o bem apesar de suas intenções porque suas chances de ganhar são zero. Ao enfraquecer a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você fará objetivamente (além de suas intenções, que não duvidamos são boas) será pavimentar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder.

Parece-nos que por causa de sua carreira você não deve entrar na história do Brasil por aquela porta indigna, como a de um homem que, tendo lutado pelas boas causas de seu povo e alcançado importantes resultados, em uma instância crítica e decisiva para seu país comete um erro e abre as portas para um processo que semeia morte e destruição em seu país e que, sem dúvida, também o terá como uma de suas vítimas. Não se pode ignorar a natureza perversa do atual presidente do Brasil. Suas palavras e promessas, mesmo aquelas que ele possa ter feito a você, são completamente inúteis. Bolsonaro é um personagem imoral, um fanático alucinado sem princípios morais que deixou perto de 700.000 brasileiros e brasileiras morrerem sem fazer o menor esforço para salvá-los. Ele também é um traidor em série, comparável apenas aos piores personagens de Shakespeare. E ele não hesitará por um momento em traí-lo assim que for conveniente para ele.

Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula. Peça-lhes aquele voto, crucial para derrotar no primeiro turno o capitão (assim, com letras minúsculas) e seus esquadrões armados; crucial também para impedir a perpetuação no poder de um homem que exaltava a figura do canalha que torturou Dilma Rousseff. Você, por causa de sua história e de suas ideias, tem que fazer o impossível para impedir que uma figura tão monstruosa fique mais um dia no Palácio do Planalto. Além disso, devido à sua idade, não temos dúvidas de que ele continuará sendo uma figura de destaque na política brasileira. Que não é a vez dele, que as circunstâncias o obrigam a esperar. Não se esqueça que a paciência é um dos traços que definem os grandes líderes políticos.

Nada mais por enquanto. Esperamos que você aprecie o senso de solidariedade nesta mensagem. Receba um abraço fraterno de seus companheiros lutadores de toda a América Latina e Caribe.

Assinam a carta:

Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel de la Paz, Argentina
Rafael Correa, ex-presidente do Equador
Stella Calloni, jornalista, Argentina
E. Raúl Zaffaroni, ex-juiz da Corte Suprema, Argentina
Atilio Boron, politólogo, Argentina
Piedad Córdoba, senadora, Colômbia
Amado Boudou, ex-vice-presidente da Argentina
Gabriela Rivadeneira, ex-presidenta da Assembleia Nacional, Equador
Fernando Buen Abad, filósofo, México
Ignacio Ramonet, jornalista, França/Espanha
Ernesto Villegas, República Bolivariana da Venezuela
Hugo Moldiz, ex-ministro, Bolívia
Jaime Lorca, Fundação Memória e Futuro, Chile
Xavier Lasso, jornalista, Equador
Katu Arkonada, País Basco/Bolívia
Jorge Lara Castro, ex-chanceler, Paraguai
Hernando Calvo Ospina, cineasta, Colômbia
Esteban Silva, professor universitário, Chile
María Seoane, jornalista, Argentina
Mempo Giardinelli, escritor, Argentina
Juan Eduardo Romero, deputado PSUV, Assembleia Nacional, Venezuela
Alicia Entel, professora universitária, Argentina
Gilberto López y Rivas, antropólogo, México
Daniel Jadue, prefeito de Recoleta, Chile
Telma Luzzani, jornalista, Argentina
Florencia Saintout, presidenta, Instituto Cultural da provincia de Buenos Aires, Argentina
Ramón Grossfogel, professor universitário, Puerto Rico
Mario Giorgi, Rádio Undav, Argentina
Claudia V. Rocca, seção argentina da Associação Americana de Juristas
María Fernanda Barretto, escritora colombo-venezuelana
Daniel de Santis, professor universitário, Argentina
José Seoane, professor universitário, Argentina
Paola Gallo Peláez, Co-presidenta del Mopassol, Argentina
Jorge Cantor, Argentina
Rodolfo Hamawi, professor universitário, Argentina
Emilio Taddei, professor universitário, Argentina
Julio Ferrer, jornalista, Argentina
Juan Ramón Quintana Taborga, ex-ministro, Bolívia
Andrea V. Vlahusic, Co-presidenta del Mopassol, Argentina
Héctor Bernardo, jornalista, Argentina
María Fernanda de la Quintana, jornalista, Argentina
Jorge Elbaum, professor universitário, Argentina
Carlos López López, parlamentar do Mercosur
Ana María Ramb, escritora, Argentina
Pamela Dávila, jornalista, Ecuador
Rafael Urrejola Ditborn, jornalista, Chile
Paula Klachko, professora universitária, Coord. REDH/Cap. Argentino
Henry Morales, Coord. Movimiento Tzuk Kim Pop, Guatemala
Manuel Santos Iñurrieta, dramaturgo, Argentina
Carlos Bedoya, Coord. Latindadd, Perú
Alexia Massholder, professora universitária, Argentina
Claudio Katz, economista, Argentina
Marcelo Rodríguez, professor universitário, Argentina
Mario Alderete, Argentina
Graciela Josevich, AUNA Argentina"

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